quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

historias

Aqui quem vos fala é uma escrava.
e como escrava todas as historias lhe contarei a partir de agora
uma escrava liberta ou talvez, uma alforria sem valor, mas sempre uma alforria.
uma Bertoleza ciente em ser escrava liberta, mas não usar esse documento que de nada lhe serve.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

dona matilde celeste

Eu dormi o sono da morte no velório de minha avó.

depois o mesmo sono no velório de meu pai.

          Eu vou te contar um caso Sonia e como segredos não se guardam se um dia quiser contar, passe para a frente sem duvidar e conte apenas umas histórias, que ouviu de uma certa Filomena, que te contou a "boca pequena", as traições e poemas que viveu em sua vida plena.


           talvez um dos motivos que levam a família Gomes Henriques ao catolicismo exagerado se deva a herança de dona Matilde Celeste da Silva. Jamais teve duvidas sobre sua fé indiscutível. A santíssima trindade misteriosa não precisa ser contestada é vivida.

          desde os cinco anos minha avo frequentava com sua mãe a" Ordem Terceira Franciscana , hoje conhecida por Ordem Secular Franciscana" da Ilha da Madeira, onde aprendeu todos os ensinamentos cristãos que levou para sua vida. Amiga das meninas Gomes Henriques, tinha uma preferencia por um rapaz de outra família, mas como faziam gosto casou com meu avo Jose Gomes Henriques.  

          Minha avó sempre foi uma feminista mas não se deu conta como tal . 

Depois de casada teve dois filhos Marta e um menino que morreu aos 3 anos. Meu avo embarcou em um navio e foi para os Estados Unidos. Assim ela passou a ser a esposa de um embarcado. E como tal tinha de se preservar para não cair na boca do povo. A Ilha era um lugar cruel preconceituoso e vigiado pelos vizinhos. Isso não era problema para ela, que só ia à igreja ou visitar parentes. Era bordadeira como as mulheres todas e se sustentou a vida toda com seu trabalho. Tinha sua opinião, existiam as esposas e as outras, uma mulher honesta não tem olhos nem ouvidos. Ele morou na "américa" durante 9 anos, votou à ilha e após o nascimento de meu tio José retornou e ficou mais 4 anos. Voltou a Ilha e viajou por outros lugares sempre retornando a cada dois anos. 

Arrumava a família bem bonita e tirava retratos para mandar ao marido embarcado,

quando tio José tinha 15 anos meu avo o levou para a Venezuela e minha avo só o viu novamente no hospital em seu leito de morte. Chorou debaixo da latada enquanto via o navio partir com seu filho. Dois anos depois meu avo voltou e ao partir levou tio Antonio também para a Venezuela, As dores das mulheres na Ilha ela sentiu na alma. "Terra triste e pobre, que os navios levam nossos filhos para sempre."

Tia Marta casou-se cedo e teve na Ilha sete filhos e no Brasil mais duas filhas. Os irmãos eram pequenos, e ela treze anos mais velha. A empresa de Erva Mate Leão contatou alguns homens na Ilha para trabalharem em Curitiba. e o marido dela foi um deles. Um ano depois ela com muita coragem fez um empréstimo e sem saber ou desejar tomar conciencia veio pra o Brasil com os filhos.

Convenceu minha avo, a fazer o mesmo. Meu avo não queria emigrar para o Brasil e sim para "América", mas ela soube pelo pároco seu amigo que a Venezuela era perto do Brasil. Só não sabia que Puerto Ordaz era tão longe de Curitiba. e como mulher determinada que era, pouco depois de meu nascimento estavam todos embarcando para o Brasil e chegaram ao Porto de Santos em 1954, e trabalhando para a Família Leão Junior. meu avo foi contratado como guardião e minha avo ajudante por algumas horas,  muitas vezes a vi bordando no canapé na varanda da casa dos caseiros onde moravam. todos os dias ia à missa na capela da mansão no Alto da Glória. Dona Lolita Leão trouxe padres da Itália e ali iniciou as novenas de Nossa Senhora do Perpetuo socorro. Durante anos ficou ali, até um dia ter a basílica ao lado do Estádio de Futebol Couto Pereira.

também aos domingos ia a missa na Catedral. ate sete anos depois fazer uma casa no terreno de meus pais no bairro Novo Mundo,  onde viveu até meus 19 anos, quando faleceu.

meu avo era muito querido pela família Leão e conversavam com ele em inglês. Durante esses anos que trabalhou na mansão eles treinaram o idioma. Eu não entendia quase nada do que ele falava, um sotaque português e inglês misturado, ele também não era um homem generoso e bom. Meu primo quando foi a Ilha há uns dez anos, para conhecer a casa de nossos avos, conversou com um homem que lembrava deles. Disse que ele era conhecido como "O Raça" e minha avó conhecida como a "mulher do homem mau" , ela uma santa.

como recompensa por sua teimosia a Venezuela não foi tão longe, um dia enquanto bordava na canapê meu tio Antonio Chegou c um amigo. Um tal de Manoel. Ele veio para ficar, mas Manoel voltou para a Venezuela casado com minha tia Ângela filha mais nova. Triste sina, teve um filho de volta ao lar e perdeu outra ao partir. Mas Marta, João, Antonio e minha mãe estavam com ela.

tio João era inteligente como ela dizia, mas foi a tristeza de sua vida, por causa da bebida e do trabalho com o jogo de bicho. ELA MUITAS vezes passava pela rua XV na volta da novena e ouvia minha tia cantando É a vaca corre hoje! Isso era a dor mais profunda e triste ver a nora trabalhar e os filhos pequenos em casa. mas graças a Deus ele tinha sua casa própria, Morreu um ano após ela. Todos dizem que veio busca-lo para tirar daquele sofrimento. Todos estavam casados e suas família estabelecida.

meu avo morreu quando eu tinha 10 anos e todos usamos o luto por um ano, até eu vestia preto, mas não gostava. no Brasil não era costume. mas ninguém iria magoar minha vo. usou o preto durante muitos anos, mas no final de tanto insistirmos passou a usar também marrom e cinza.

tocava harmônica de boca muito bem e presenteou todas as crianças de nossa família com uma, mas só um sobrinho dela herdou esse dom.

Escrevia cartas a todos os que deixou na Ilha, trouxe para o Brasil alguns sobrinhos. Não existe falta de tempo para não escrever cartas, existe falta de amor; é nossa obrigação dar noticias aos nossos irmãos, filhos e amigos. 

 Recebia respostas, mas a resposta que mais desejava no mundo seriam as escritas por José de Puerto Ordaz, como é longe para visitar. Todos os dias o carteiro passava ente as dez e onze horas, e todos os dias ela estava atenta em sua varanda no canapé que ganhou de dona Lolita, esperando ele chamar. Todos os meses meu tio José lhe mandava um envelope de carta com um cheque dentro, desde que partira aos 15 anos, nunca lhe deixou faltar esses dólares. algumas vezes uma foto de crianças e uma mulher, que não sabíamos se casara ou não. Tia Ângela escrevia e dava noticias de seus filhos e de tio Jose. Quando estava na Ilha ele lhe mandava mensagens cantadas no Natal, mas no Brasil não havia essas mensagens. mais tarde descobri o que se tratava quando surgiram as tele mensagens por aqui. mas cartas que era bom nada. 

Eu escrevia algumas cartas que ela ditava enquanto bordava. Curitiba, tantos de tantos de mil novecentos e tantos.(eu colocava a data do dia é óbvio). Escrevo-te estas mal traçadas linhas, para saber como estão todos ai. Aqui vamos bem Graças a Deus. João...Filomena... e assim ia dando as noticias sobre nossas jornadas e comentando as cartas que recebeu... e fofocas a parte.. dizem a boca pequena que...eu escrevia e também lia as respostas. Antoninho da venda morreu mês passado. foi uma morte tranquila. outro já sofreu mais, rezava o terço na cama...era isso que ela desejava ler ao abrir os envelopes de meu tio, mas só encontrava o cheque. João ou Antonio transformam em cruzeiros e me dão o dinheiro. Um dia eu disse, vou escrever para ele. Ela ficou muito contente e eu pedi ao meu tio que escrevesse para a vó, que ela desejava muito umas mal traçadas linhas que fosse...e mandei para Puerto Ordaz com esperança que respondesse a uma pré adolescente ingênua. Tempos depois o carteiro chamou no portão e fui receber as cartas, quase sempre para minha avó. porém aquele dia tinha uma carta para mim de meu tio. Corri alegre para a casa dela e tremendo de emoção rasguei com cuidado o envelope. Procurei  uma carta, mas o que tinha dentro dela era um cheque em dólares no meu nome. Eu não acreditei, pensem na decepção minha e nas lágrimas da avó. Trocamos o cheque e eu comprei um tabuleiro de xadrez que estava namorando há tempo e tenho até hoje. boa madeira e peças de primeira.

Quando minha avó ficou doente com câncer eu e minha mão fomos ao correio mandar um telegrama. Era muito caro e pagávamos por letra. Escrevi e reescrevi e ficava muito caro ainda. então fui objetiva e cruel "Mãe a morte venha logo". minha mãe dona Filomena não queria mandar assim, mas eu a Linda insisti afinal ele nem vai se importar, pode ser que mande um cheque. em pouco tempo  estava na janela de meu quarto e minha avo deitada na cama sem poder levantar, vi uma senhora sair do taxi, parecida demais com minha mãe, e outra senhora parecida com uma índia e um homem pagando o motorista. chamei minha mãe, e ela disse meus irmãos!. fique com tua avo vou recebê-los. minutos depois voltou ao quarto e perguntou., mãe quem a senhora gostaria de encontrar em sua vida além de Deus? ela respondeu, todos sabem que meu filho José;. então ele esta aqui com a esposa e com Ângela. Foram os gritos mais incríveis que ouvi em minha vida, ela não chorava ela gritava. eles se aproximaram da cama e ela beliscava os dois, agarrava com as mãos como se quisesse arrancar os braços deles. Não acreditava que aquilo estava acontecendo, pensei que ela iria morrer ali de emoção e desespero. Foram minutos intermináveis de beijos e lágrimas, ela não podia estar sonhando, era real após tantos anos poder ficar com eles. a mãe disse que ela se acalmasse e os levou para o quarto de minhas irmãs. mas tivemos de levar minha avo para o hospital Erasto Gaertner no dia seguinte cedo. Meu tio acertou com o hospital o tratamento dela e a estadia minha e de minha prima, para que ele nunca ficasse só. Ele passou a mandar um cheque nominal em dólares todas as semanas para a instituição.  eu e a Ângela ficamos três meses indo para a escola e voltando para o hospital. Eu estudava pela manhã e ela a tarde. \Juvenal trabalhava a noite e ia ficar no hospital de dia, levava a Anela para a escola e trazia minha tia. foi o motorista da vez em todas as emergências. Quando minha avo percebeu que eles não estavam mais no Brasil foi se entregando aos poucos.

Ela era uma mulher de muita fé. meus primos sempre diziam, a vó trabalha para pagar missas. se sonhasse com um conhecido que já morreu no dia seguinte pagava uma missa por sua alma, era seu dever.  Depois que meu avo morreu praticamente dormi pouco em em meu quarto, e todas as noites ficava com ela. foram muitos anos. Ela era metódica, todas as manhas acordava as 7 horas e rezava o terço Das Santas Chagas sentada em um baú daqueles que levavam roupas no navio, preto,  com fechos de couro, e a noite de joelhos o terço pela radio Santa Felicidade, da cúria metropolitana. as quartas feiras na novena de nossa senhora do perpetuo socorro e aos domingos na igreja do bom jesus, na ordem terceira de são Francisco onde fez bodas de ouro e recebeu sua medalha de franciscana;

meu filho um dia coloriu uma foto de minha avó e me disse, veja mãe sua avo ficou mais bonita, mais jovial. não consegui gostar, não era ela. Tua bisavó meu filho jamais usaria encarnado. aquele vestido em vermelho não combinava com ela. era sagrado o vestir. em seu guarda roupa estava tudo organizado em seu guarda roupa. a cada três meses um vestido para ir à missa ao lado direito, no meio vestidos já usados na missa para passear e ir à casa de tia Marta uma vez por semana para bordarem juntas e a esquerda os vestidos já usados no passeio para andar em casa. Modelos modesto que nada poderia ser desagradável aos olhos de Deus, uma blusa com gola e botões a frente costurados em uma saia com pregas macho , geralmente nas cores pretas, beges escuro, marrom e vários tons de cinza. o véu preto já abolido pela igreja nunca deixou de usar. fazia jejuns e preferia fazer sua comida, não se adaptou aos costumes a mesa dos brasileiros. sempre preferiu lentilhas ervilhas ao nosso feijão

fé não se discute, fé se vive. Eu sou em parte ao contrario dela acho que cada um é responsável por seus pecados, mas ela rezava por ela e por todos. principalmente pelo marido mau e além de ateu desrespeitoso com as pessoas e com Deus. Chorava por sua alma perdida, e pagava missas pela sua conversão. não seria digna ao perdão de Deus se não o fizesse. é o mínimo que devemos fazer por sermos cristãos. Pelas suas santas chagas, tende piedade de nós e do mundo inteiro. eu fiquei com o missal onde ela rezava a hora do Ângelus e também a oração da boa morte, a única preocupação relevante e a mais importante pois Deus em primeiro mandamento. Chegar diante dele bem vestida era sua preocupação. Trouxe para o Brasil sua mortalha de seda e com o véu que usava na igreja, seus escapulários amarrados na combinação e sua medalha de ouro da ordem franciscana deveriam estar em seu corpo, para sua alma chegar a Deus; preocupava-se com o que diria a ele, certamente não saberia como falar, se deveria pedir perdão por não ter sido boa cristã. Deixe que ele fale vó, só escute. 

era até enraçado, todos sabiam dessa preocupação, nunca deixou de comentar, e convidava, vizinhos e amigos da igreja para ir à sua casa, oferecia um copo de vinho ou licor, e mostrava a mortalha, na gaveta da cômoda, lavada e perfumada esperando o dia para chegar ao céu junto de Deus. se recebêssemos amigos em casa ela dava um jeito de conversar e falar e mostrar essas roupas. sobre Ele determinaria quanto tempo ficaria no purgatório, porque ninguém entraria lá tão cedo, mas sabia e não tinha duvidas que o encontraria antes disso. assim vestida dignamente poderia de cabeça baixa conversar com o senhor. 

em seu velório todos que se aproximavam vinham observar se ela estava devidamente vestida como desejava para chegar diante de Deus. E ela foi. fico pensando as vezes como teria sido o encontro. 

"o cortejo de minha avó saiu da sala da casa de minha mãe, seguimos todos a pé atrás do carro fúnebre por quatro quadras até a Capela Sagrada Família na praça do Novo Mundo (hoje paróquia em frente à casa de minha mãe), onde foi realizada uma missa de corpo presente. O caixão de minha avó diante do altar e a capela esta repleta de parentes e amigos que seguiram o cortejo. Depois seguimos um cortejo tradicional, com o carro fúnebre, seguido por carros até o Cemitério Municipal da Água Verde onde foi sepultada com meu avô no túmulo da família Gomes Henriques."





          



domingo, 14 de janeiro de 2018

o roubo descarado de minha historia

francamente isso é um desaforo.
tinha muitas ideias mas ja começo com raiva deste notebook sempre travando e deixa minhas ideias fugirem.
droga com raiva não consigo.
pior ainda quando consigo vem uma tormenta da serra para o mar e eu tenho de desligar.bosta

terça-feira, 28 de novembro de 2017

eles e elas nas linhas do amor

ginásio formatura

eu vi teu olhar
a procurar por mim
escondida covarde
senti medo
fugi!
vi o feio de tua vida
esqueci!
nossas mãos suadas
dadas!
juntas sempre
o perfume forte
irritado doce
a nascer a paixão
cortada!
veloz!
pensou triste
ter-me perdido
sempre todo dia
engano!
vida feia vi a minha
tu não me perdeste
eu te perdi!